Eros: Amor Profundo e Incompreendido- Hermes C. Fernandes- Pte


Eros - É geralmente associado à sensualidade. Há quem o defina como algo biológico, físico, sensorial, hormonal, visceral. Nesse sentido, ele seria o tipo de amor responsável pela atração sexual entre os seres humanos. Entretanto, Eros não é necessariamente sensual, ou carnal. Sua idéia fundamental é a de romance e prazer. E devemos admitir que nem todo prazer está relacionado à sensualidade. [1] Sempre que nos afeiçoamos a alguém pelo simples prazer de sua companhia, estamos expressando a dimensão Eros do amor. A companhia do outro é a recompensa de nosso amor. Buscamos prazer, satisfação e alegria no outro. Não há nada de errado ou perverso nisso.
Eros também não tem nada de demoníaco ou pecaminoso. Não se pode confundir Eros com pornografia.
De acordo com a avaliação de Hildo Conte, teólogo católico, “Para a maioria dos cristãos, o Eros sempre esteve mais ligado ao demônio do que a Deus, ao pecado do que a Graça. O verdadeiro Eros foi deturpado e pervertido, reduzido à sexualidade e, sobretudo à pornografia, perdeu seu profundo e religioso significado original”.[2]
Urge recuperarmos o sentido original de Eros.
Filoteo Faros, sacerdote da Igreja ortodoxa oriental, afirma que os primeiros teólogos e pastores da igreja primitiva definiam Eros como “aquela força superior que conduz o homem a Deus, aquele ‘Dom divino' que o próprio Deus inspira no homem”.[3]
O amor de Deus tem seu aspecto erótico. [4] Nas palavras de John Piper, teólogo protestante, “o Eros de Deus anseia e se delicia na alegria eterna e santa do Seu povo”.[5] A relação proposta por Deus ao ser humano envolve prazer, satisfação, gratificação. Deus satisfaz-Se em nós, e nos dá a oportunidade de nos satisfazer n'Ele. Ou não é isso que lemos no Salmo 37:4: “Deleita-te no Senhor, e ele concederá os desejos do teu coração”?
Nossa alma é seduzida pelo doce amor de um Deus apaixonado.
Somos convidados e desafiados a buscar prazer em Deus, e nos banquetearmos n'Ele. E mais, somos conclamados a Lhe proporcionar prazer! Existir para a Sua glória é o mesmo que existir para o Seu deleite. Foi coberto de razão que o próprio Deus reclamou que as assembléias do Seu povo já não Lhe davam qualquer prazer.[6] Se o amor entre Deus e a humanidade não envolvesse essa dimensão de Eros , não haveria sentido na analogia do casamento, usada para expressar a união entre Cristo e a Igreja.
Deus jamais vai ficar aborrecido ou decepcionado por saber que O buscamos interessados no prazer que encontramos em Sua presença. Decepcionado Ele ficaria, se soubesse que Sua presença nos causa repulsa.
Observe o que Davi, o rei salmista afirma:

“Quão precioso é, ó Deus, o teu constante amor! Por isso os filhos dos
homens se abrigam à sombra das tuas asas (...) Tu lhes dás de beber
da corrente das tuas delícias”.[7]
Muitos se escandalizariam, se ouvissem e meditassem no que o mesmo salmista diz em outro cântico: “Ó Deus, tu és o meu Deus, eu te busco ansiosamente; a minha alma tem sede de ti, o meu corpo te deseja muito em uma terra seca e cansada, onde não há água [...] Porque o teu amor é melhor do que a vida, os meus lábios te louvarão”.[8]
A dimensão Eros corresponde à profundidade do Amor. É desse aspecto do amor que Salomão escreve em seu cântico: “Põe-me como selo sobre o teu coração, como selo sobre o teu braço, porque o amor é forte como a morte, e duro como a sepultura o ciúme. As suas brasas são brasas de fogo, como as labaredas do Senhor. As muitas águas não poderiam apagar este amor, nem os rios afogá-lo. Ainda que alguém desse todos os bens da sua casa por este amor, seria de todo desprezado”.[9] Há algo tão profundo quanto isso? Quando dominado pelo desejo por sua amada, o homem despreza qualquer outra coisa. Seu objetivo é deleitar-se nos braços dela. Nada o detém. Assim somos nós, quando aprendemos a nos deleitar em Deus. Ficamos como que obcecados por Sua presença.

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