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Brasil desperdiça poetas por racismo, misoginia e homofobia, dizem estudiosos de Luiz Gama e Hilda Machado
Data: 29/07/2018
Categoria: Patrimônio Cultural, Questão Racial
Por Cauê Muraro, G1
O Brasil desperdiça poetas e escritores e os deixa fora do cânone literário por racismo, mosigonia e homofobia. Essa foi uma das conclusões da mesa que abriu nesta sexta-feira (27) a programação da 16ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip).
O encontro juntou, Lígia Ferreira e Ricardo Domeneck, pesquisadores que estudam justamente obra de poetas “ignorados por leitores” e “silenciados pela crítica”: o ex-escravo, poeta, escritor e abolicionista Luiz Gama (1830-1882), conhecido ainda por sua atuação política, e a poeta Hilda Machado (1951-2007), mais conhecida por seu trabalho como cineasta e estudiosa de cinema.
“Infelizmente, existe um problema sério no brasil, que é a forma que a gente estuda literatura, é um desperdício de poetas e escritores, essa obsessão por escolas e períodos literários. É uma coisa complicada, porque o estudo deveria ser pelo texto, e não pela escola literária”, afirmou Domeneck, que pesquisa Hilda Machado.
No palco da Flip, leu um poema que o marcou por “conjugar lírica com um humor muito autodepreciativo”.
“É um poema para mim de tamanha potência. Essa mistura de registro, palavras rebuscadas, alguma gíria. Uma poesia claramente de amor, mas ao mesmo de uma potência muito feminina, uma vingança contra esses machos filhos da P. Eu estava fazendo por uma separação amorosa com um rapaz e pensei: ‘É isso, é isso aqui que tenho que dizer praquela criatura’.” A plateia riu.
Ele também foi aplaudido ao dizer que “o fato de o brasileiro se apresentar como tão tolerante torna difícil a conversa sobre preconceitos”. “Se o país nem acredita que os preconceitos existem, como é que você vai mudar esses preconceitos?”
Em seguida, voltando ao tema, completou:
Luiz Gama
Professora de Língua e Literaturas Francesa e Francófonas da Unifesp, publicou “Primeiras Trovas Burlescas e outros poemas de Luiz Gama (Martins Fontes, 2000) e “Com a palavra Luiz Gama: Poemas, artigos, cartas, máximas” (Imprensa Oficial, 2011).
Morou 13 anos na França, e foi lá que começou a pesquisa a obra do poeta, tema de seu doutorado na Universidade Sorbonne Nouvelle – Paris 3. Tornou-se, então, divulgadora do escritor.
A pesquisadora afirmou gostar muito de ser chamada de “garimpeira da literatura”.
E lembrou Hilda Hilst, homenageada da Flip 2018: “Hilda pode se tornar um antídoto contra esse conservadorismo cafona. Espero que ela assuste muita gente com os poemas dela”.
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