POLÍTICA- Impeachment é mentira das elites que a classe média comprou- AEPET- Associação dos Engenheiros da Petrobras
Por Luiz Carvalho - Misture no mesmo caldeirão complexo de inferioridade, o chavão de que o Brasil é um lugar de corrupto e dê às pessoas uma causa que não é delas, mas parece ser uma batalha justa e capaz de ‘limpar’ um país. Pronto, está construído um cenário favorável à manipulação e que resultará, ironicamente, num golpe contra os direitos de quem o defende.
A avaliação é do presidente do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Jessé Souza.
Para ele, a construção desse cenário de
luta pela moralidade envolve um trabalho sedutor e constante dos meios
de comunicação, que só podem ser combatidos por movimentos organizados a
partir das bases.
O senhor tem rebatido a ideia de que a luta pelo impeachment, com o argumento de combate à corrupção não é um exemplo de cidadania. Por que não seria?
Criou-se no Brasil uma ideia, que é muito falsa, a partir de uma espécie de complexo de inferioridade entre nós, de que o brasileiro é potencialmente corrupto. Como se não houvesse jeitinho nos Estados Unidos, como se você sendo sobrinho de um senador lá sua vida não estivesse resolvida. A última crise dos EUA mostrou que havia maquiagem de balanço de empresas, houve mentiras, fraudes. A corrupção é um dado do capitalismo, do mercado.
Há dois ou três anos, corrupção era
aquilo cometido por agentes do Estado. A lei é feita pelos mais ricos,
Foucault dizia que, a partir do momento em que o capitalismo se instala,
o crime passa a ser algo cometido pelo pobre. É o cara que bate
carteira, rouba galinha do vizinho, mas se você acaba com a economia de
um país inteiro, como aconteceu com Argentina, Tailândia, Malásia e
quase aconteceu com o Brasil, esse cara ganha uma capa na Time como um
grande financista. Mas se pensarmos bem, com a nossa cabeça e não da
mídia, quem é o grande criminoso, o corrupto? A ideia de que a corrupção
acontece no Estado é para nos fazer de tolos. Você diz que ela é feita
no Estado e as pessoas prestam atenção só no Estado, especialmente
quando está sendo ocupado por partidos de esquerda. Foi só aí que virou
problema para nós. Getúlio, em 1954, Jango, em 1964 e Lula e Dilma
agora. Isso não é acaso. O único ponto fora de curva foi Fernando Collor
de Mello que conseguiu em 24 horas colocar toda a sociedade contra ele
ao confiscar a poupança.
Nos casos de normalidade, as acusações
de corrupção são seletivas. Não é corrupção quando os ricos no Brasil
não pagam impostos e fazem evasão em paraísos fiscais? É muito mais
dinheiro que qualquer esquema já descoberto. Temos a maior taxa de juros
do mundo, tudo que compramos traz isso embutido e significa que todos
os trabalhadores estão pagando juros para meia dúzia de banqueiros. Isso
é corrupção? Para mim é, mas é legal, porque esse pessoal compra
deputados, partidos inteiros para que nunca passem leis que são ruins
para eles.
A elite do dinheiro é a verdadeira elite
porque ela compra todas as outras, a política, a intelectual, os
jornais para dizer o que quiserem. E é essa elite que está a pleno vapor
e em pleno funcionamento para vampirizar a sociedade sem nenhum plano
para o país. O plano é o de sempre, entregar a riqueza de todos para
meia dúzia de amigos, estão querendo fazer isso com a Petrobras, e
quebrar direitos dos trabalhadores, porque acham que estão ganhando
muito bem com a valorização do salário mínimo. Assim que assumirem o
poder, e não é preciso ser nenhum profeta, vão quebrar a CLT. Isso é
corrupção e não podemos deixar nos fazerem de imbecis.
Mas como se constrói o apoio popular a uma ideia que não faz parte da realidade da maioria da população?
A mídia tem um papel muito importante
nisso, porque não temos uma mídia plural, que traz opiniões divergentes,
como na Alemanha, França, onde qualquer programa de TV mostra debates
em que há pessoas defendendo diferentes pontos de vista. Por aqui isso
não existe, vivemos com uma mídia ditatorial, não podemos ter debate
público efetivo. Democracia não é só voto, é voto com consciência e você
só consegue montar sua opinião sobre o assunto quando tem opiniões
divergentes e distintas.
No campo da ideologia, no Brasil, a
história de que a corrupção só tem a ver com o Estado e partidos de
esquerda é comprada por muitos de nossos intelectuais. O pessoal que
criou a USP, como Sérgio Buarque, influencia. As ideias dele não são
importantes porque as pessoas começaram a ler os livros que escreveu,
mas porque o programa do PSDB é completamente baseado nele, a influência
chega até o PT, porque a esquerda não tem uma narrativa própria. A
imobilidade da esquerda hoje que fica só apanhando tem a ver com a
ausência da construção de uma contranarrativa sobre o Brasil ser
naturalmente corrupto.
E só interessa demonizar o Estado aos
muito ricos, porque podem se beneficiar de um modelo monopolista,
oligopolista e muito caro. Às outras classes não interessa, porque é por
meio dele que você tem um mínimo de acesso à saúde e educação. A classe
média também é feita de tola, porque precisa da universidade pública,
ao contrário do filho do rico. Quando o plano de saúde não paga uma
operação difícil, é o SUS quem custeia o tratamento.
Além disso, há uma parte da classe média
que é muito conservadora e sempre teve raiva de pobre. Nós não viemos
de Portugal, viemos da escravidão, que não existia em Portugal. E
escravidão significa desprezo e raiva dos pobres. Existem políticas
públicas informais entre nós de matança indiscriminada dos pobres. Não
porque a polícia é ruim, mas porque tem apoio político da classe média. E
esse pessoal passou a ter raiva do povo começando a comprar,
frequentando o mesmo shopping, ficava dizendo que aeroportos tinham
virado rodoviária, onde ficavam falando alto. Esse pessoal odeia pobre,
mas não podia dizer isso porque pegava mal, mas quando você monta algo
dizendo que o governo que ajudou os pobres é corrupto, esse cara pode
até ter orgulho do ódio dele guardado que não poderia expressar. Ele
pode odiar o pobre odiando o governo que o representou, os fascistas da
classe média, que estão montados no ódio e acreditam ser os donos da
moralidade e fazer a limpeza ética no país. A gente não pode se deixar
fazer de imbecil pela mídia, há interesse econômico por trás do
discurso.
"Agora, até porções da classe
trabalhadora estão comprando o discurso do golpe que é ruim para eles
mesmos. A classe média conservadora está sendo usada pelos ricos, é uma
espécie de tropa de choque dos ricos, sai às ruas para defender os
interesses dos ricos que não são iguais aos dela. Ao contrário, ela
perde com isso. Mas ganha moralmente, se vê como campeã moral."
Jessé SouzaNas manifestações de junho de 2013 havia bandeiras de bens comuns, especialmente de melhoria dos serviços públicos. Agora, a bandeira é apenas fora Dilma. Por que mudou?
Porque a partir daquele momento os
grandes meios de comunicação passaram a dizer que aquilo era democracia e
a montar uma narrativa anticorrupção seletiva. O que o trabalhador tem
de compreender é que precisamos combater a corrupção, que existe em todo
lugar, até em países muito desenvolvidos com grande controle sobre
isso, como Suécia e Alemanha. Tem de controlar e mitigar.
Mas o que existe entre nós não é isso,
se fosse, estariam pegando todos os partidos. Não são os apartamentos de
todos os ex-presidentes que estão em questão. Não há interesse nas
fortunas de ex-presidentes, reais, mais visíveis, apenas no que ganhou o
ex-presidente Lula. O esquema da Petrobras já existe há muito tempo,
mas só há interessa investigar os governos Lula e Dilma. Óbvio que há
uma armadilha para pegar não o presidente Lula, mas o que ele
representa. É a desmoralização do representante político da classe
trabalhadora.
O senhor acredita em boicote dos empresários para fomentar a crise?
A crise econômica foi produzida
politicamente. E, obviamente, os empresários estão agindo juntos porque
não estão investindo. Esse pessoal conversa entre si e trama entre si,
há uma estratégia de classe para tirar a esquerda do poder no país.
Ganharam dinheiro, mas agora querem mais, porque agora tem menos
recursos. Não vai ficar um programa social de pé, vai tudo para pagar
juros, que é onde esse pessoal ganha dinheiro. O produto do trabalho de
uma sociedade inteira vai direto para o bolso de meia dúzia de pessoas.
Agora, até porções da classe
trabalhadora estão comprando o discurso do golpe que é ruim para eles
mesmos. A classe média conservadora está sendo usada pelos ricos, é uma
espécie de tropa de choque dos ricos, sai às ruas para defender os
interesses dos ricos que não são iguais aos dela. Ao contrário, ela
perde com isso. Mas ganha moralmente, se vê como campeã moral. Na cabeça
dela é isso que importa, a raiva dos pobres foi transformada em uma
luta virtuosa. Já os pobres não tem nem isso, porém, são metralhados e
recebem um bombardeio da mídia.
Os trabalhadores têm que entender que o
ganho econômico deve ser legitimado moralmente, politicamente. O cara
que é banqueiro não pode dizer para a maior parte da população, “olha,
você são todos uns subalternos e eu quero que o produto do trabalho de
vocês venha diretamente para o meu bolso.” Ele não pode usar a linguagem
direta, ele precisa criar uma mentira, então, tem de criar uma ideia
que irá transformar esse egoísmo e mesquinharia em algo virtuoso para
vender a todos. É isso que o combate à corrupção dá. Deixa de ser um
rapinador de curto prazo que não se importa com o país e o povo para
conseguir o mesmo injetando um discurso de que está limpando o país ao
tirar a Dilma do poder. Ou seja, fazendo-nos de imbecis. Quando esse
combate é só para destruir partidos de esquerda e a volta da
privatização, entreguismo, o trabalhador pode ter certeza sentirá na
pele o que estava preparado para ele. É uma farsa.
Parte desse discurso, o suposto
nacionalismo, por exemplo, que veio com o impeachment morre caso a Dilma
seja retirada da presidência. Esse é um símbolo criado pelos mais ricos
para ajudar a vender o discurso. Essa classe nunca fez nada pelo país.
Mas você precisa criar um circo, um teatro,uma fraude
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